
Debator: Daniel Rodrigues
O evento ocorrerá no auditório do Centro de Educação da UFPE, no dia 12 de dezembro (sábado) às 8:30h.
Minc pede acordo para corte maior de CO2
AFRA BALAZINA
da Folha de S.Paulo
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, defendeu em Nairobi, no Quênia, uma proposta chamada Espiral Descendente de Carbono, que prevê a responsabilidade conjunta, mas diferenciada, de países desenvolvidos e em desenvolvimento no enfrentamento ao aquecimento global.
Ele participou do encontro internacional promovido nesta semana pelo Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). O ministro afirma que falta pouco tempo para a Conferência do Clima em Copenhague (Dinamarca), que acontece em dezembro, e que até lá é preciso que os países assumam metas mais ousadas de redução das emissões dos gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2).
A proposta considera a provisão de recursos financeiros e a transferência de tecnologias limpas para as nações em desenvolvimento. A sugestão --em debate com o Itamaraty e o Ministério da Ciência e Tecnologia-- ocorreu na Consulta Ministerial sobre Mudança do Clima, organizada pela Dinamarca, no Fórum Global de Ministros de Meio Ambiente.
Minc considera que os países ricos deverão aumentar a meta que têm admitido assumir até agora. A Alemanha, por exemplo, admite a meta máxima de 20% de redução das emissões de gases-estufa até 2020 (em relação às emissões de 1990), podendo chegar a 30% se as nações em desenvolvimento também se comprometerem com reduções. "É pouco, tem que ser de 40%", afirma Minc.
Como contrapartida dos países em desenvolvimento, ele cita o exemplo do Brasil, que apresentou um Plano Nacional de Mudanças Climáticas em 2008, com meta de reduzir 70% do desmatamento da Amazônia até 2017.
Segundo Minc disse à Folha, a reação à proposta foi "variada". "Alguns países ricos não admitem repassar recursos para países como a China, que é um grande emissor. Em sua opinião, a discussão não pode ficar em "menos, menos", e tem que ir para o "mais, mais", com maior esforço de todos os países nas reduções.
Amazônia perde
Em Nairobi foi apresentado o estudo do Pnuma GEO Amazônia. A pesquisa mostra que, ao longo da história, a floresta amazônica perdeu 17% de sua área original em oito países -Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. Os dados coletados vão até 2005. A área perdida de floresta é de 857,6 mil km2, o equivalente a 94% do território da Venezuela.
Minc afirmou que o Brasil é um dos poucos que estão reduzindo o desmatamento. Ele se comprometeu "ainda mais" a passar a tecnologia de monitoramento do Inpe para os demais países.
Extraído da página: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ambiente/ult10007u507084.shtml
Razões técnicas e lógicas sociais
A Federação Nacional dos Engenheiros apresentou um projeto de desenvolvimento para a Amazônia que busca romper com a irredutibilidade de um debate que, num dos lados, legitima a devastação ou, no outro, nada mais propõe que imobilismo conservacionista.
Marcos Dantas*
Uma proposta concreta e racional: a Federação Nacional dos Engenheiros – FNE, na mesa-redonda “Engenharia e Desenvolvimento Sustentável”, apresentou um projeto de desenvolvimento para a Amazônia que busca romper com a irredutibilidade de um debate que, num dos lados, legitima a devastação ou, no outro, nada mais propõe que imobilismo conservacionista.
A Amazônia é parte fundamental do Brasil; é parte de outros países latino-americanos; é, claro, parte do mundo. Sua imensa riqueza pode beneficiar o mundo, mas, primeiro, há que servir aos brasileiros e nossos vizinhos. Isto é, se o mundo demanda as riquezas da Amazônia, inclusive o seu oxigênio, que sejamos nós a produzi-las e vendê-las, assim auferindo boas rendas para nós todos e nós todas, principalmente para os próprios amazônidas.
Tal foi a essência da mensagem passada pela mesa composta por Carlos Ovídio Duarte, secretário de Floresta do Acre, Marco Aurélio Pinto, da UFF, e o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).
Pontos a destacar:
1) a Amazônia é uma região urbana, com 70% de sua população vivendo nas cidades e enfrentando todos os problemas próprios a qualquer outra população urbana do Brasil de hoje: desemprego, subemprego, favelamento, criminalidade, carência de serviços públicos etc.
2) a destruição de sua biodiversidade é a principal conseqüência do desflorestamento e devastação: deve ser enfrentada pela criação de um sistema de gestão territorial que mapeie esses recursos e permita explorá-los lucrativa, mas racionalmente.
3) a exploração da biodiversidade e dos recursos hídricos exige muita pesquisa científica e tecnológica que identifique os melhores modos de aproveitamento lucrativo e sustentável desses recursos. Essas investigações, para as quais se implantariam ou fortaleceriam centros de pesquisa na região, abrangeriam o desenvolvimento e melhoria de meios de transporte adequados, claro que explorando as possibilidades fluviais, o estudo de soluções habitacionais apropriadas, o enfrentamento de doenças endêmicas. Deveriam também envolver as possibilidades de se adaptar espécies nativas, como o bacuri, o açaí e o cupuaçu, ao cultivo extensivo; adequar a cultura do dendê, da seringueira e do cacau ao aproveitamento de terras já desmatadas; e o controle de pragas.
O apoio e incentivo a essas frentes de investimento produtivo que poderiam, com o tempo, deter os investimentos devastadores em soja ou gado, permitiriam atrair capitais privados para uma economia mais adequada à preservação (e baseada na preservação), gerando empregos melhor qualificados e causando impactos positivos também nas cidades. Certamente, reconhecem os membros da mesa, esses investimentos também exigirão forte presença do Estado, seja em associação direta com empreendedores privados, seja assegurando as condições de infra-estrutura, saneamento, educação, pesquisa e outras necessárias ao desenvolvimento regional.
A Amazônia vive uma relação tensa com o resto do País, advertiu o deputado Paulo Teixeira. Por um lado, a sociedade brasileira demanda recursos amazônicos, sobretudo os energéticos hídricos. Por outro, os amazônidas não mais querem ceder esses recursos, sem deles também retirar uma parte de seus benefícios. O caso das hidrelétricas, neste contexto, foi muito discutido. De fato, não se pode deixar que falte energia no país ou que esta energia se torne mais cara e mais suja, pelo não aproveitamento do potencial energético dos rios amazônicos. Por outro, em nome desse aproveitamento, não se pode repetir desastres como Balbina ou Tucuruí. Certamente, a engenharia brasileira saberá encontrar caminhos para uma solução de compromisso que articule as razões técnicas com as lógicas sociais, beneficiando a todos os brasileiros. A começar pelos que vivem na nossa Amazônia.
*Marcos Dantas é professor do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, doutor em Engenharia de Produção pela COPP-UFRJ e autor de “A lógica do capital-informação: da fragmentação dos monopólios à monopolização dos fragmentos num mundo de comunicações globais” (Ed. Contraponto).