domingo, 15 de fevereiro de 2009

Para Ler e Refletir - Razões técnicas e lógicas sociais




Razões técnicas e lógicas sociais

A Federação Nacional dos Engenheiros apresentou um projeto de desenvolvimento para a Amazônia que busca romper com a irredutibilidade de um debate que, num dos lados, legitima a devastação ou, no outro, nada mais propõe que imobilismo conservacionista.

Uma proposta concreta e racional: a Federação Nacional dos Engenheiros – FNE, na mesa-redonda “Engenharia e Desenvolvimento Sustentável”, apresentou um projeto de desenvolvimento para a Amazônia que busca romper com a irredutibilidade de um debate que, num dos lados, legitima a devastação ou, no outro, nada mais propõe que imobilismo conservacionista.

A Amazônia é parte fundamental do Brasil; é parte de outros países latino-americanos; é, claro, parte do mundo. Sua imensa riqueza pode beneficiar o mundo, mas, primeiro, há que servir aos brasileiros e nossos vizinhos. Isto é, se o mundo demanda as riquezas da Amazônia, inclusive o seu oxigênio, que sejamos nós a produzi-las e vendê-las, assim auferindo boas rendas para nós todos e nós todas, principalmente para os próprios amazônidas.

Tal foi a essência da mensagem passada pela mesa composta por Carlos Ovídio Duarte, secretário de Floresta do Acre, Marco Aurélio Pinto, da UFF, e o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).

Pontos a destacar:

1) a Amazônia é uma região urbana, com 70% de sua população vivendo nas cidades e enfrentando todos os problemas próprios a qualquer outra população urbana do Brasil de hoje: desemprego, subemprego, favelamento, criminalidade, carência de serviços públicos etc.

2) a destruição de sua biodiversidade é a principal conseqüência do desflorestamento e devastação: deve ser enfrentada pela criação de um sistema de gestão territorial que mapeie esses recursos e permita explorá-los lucrativa, mas racionalmente.

3) a exploração da biodiversidade e dos recursos hídricos exige muita pesquisa científica e tecnológica que identifique os melhores modos de aproveitamento lucrativo e sustentável desses recursos. Essas investigações, para as quais se implantariam ou fortaleceriam centros de pesquisa na região, abrangeriam o desenvolvimento e melhoria de meios de transporte adequados, claro que explorando as possibilidades fluviais, o estudo de soluções habitacionais apropriadas, o enfrentamento de doenças endêmicas. Deveriam também envolver as possibilidades de se adaptar espécies nativas, como o bacuri, o açaí e o cupuaçu, ao cultivo extensivo; adequar a cultura do dendê, da seringueira e do cacau ao aproveitamento de terras já desmatadas; e o controle de pragas.

O apoio e incentivo a essas frentes de investimento produtivo que poderiam, com o tempo, deter os investimentos devastadores em soja ou gado, permitiriam atrair capitais privados para uma economia mais adequada à preservação (e baseada na preservação), gerando empregos melhor qualificados e causando impactos positivos também nas cidades. Certamente, reconhecem os membros da mesa, esses investimentos também exigirão forte presença do Estado, seja em associação direta com empreendedores privados, seja assegurando as condições de infra-estrutura, saneamento, educação, pesquisa e outras necessárias ao desenvolvimento regional.

A Amazônia vive uma relação tensa com o resto do País, advertiu o deputado Paulo Teixeira. Por um lado, a sociedade brasileira demanda recursos amazônicos, sobretudo os energéticos hídricos. Por outro, os amazônidas não mais querem ceder esses recursos, sem deles também retirar uma parte de seus benefícios. O caso das hidrelétricas, neste contexto, foi muito discutido. De fato, não se pode deixar que falte energia no país ou que esta energia se torne mais cara e mais suja, pelo não aproveitamento do potencial energético dos rios amazônicos. Por outro, em nome desse aproveitamento, não se pode repetir desastres como Balbina ou Tucuruí. Certamente, a engenharia brasileira saberá encontrar caminhos para uma solução de compromisso que articule as razões técnicas com as lógicas sociais, beneficiando a todos os brasileiros. A começar pelos que vivem na nossa Amazônia.


*Marcos Dantas é professor do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, doutor em Engenharia de Produção pela COPP-UFRJ e autor de “A lógica do capital-informação: da fragmentação dos monopólios à monopolização dos fragmentos num mundo de comunicações globais” (Ed. Contraponto).

Para ler e refletir - Política ambiental brasileira: o que mudou



Política ambiental brasileira: o que mudou

O Fórum Social Mundial contou com a participação ativa dos ministros do Meio Ambiente do governo Lula, Marina Silva e Carlos Minc. É inevitável a gente se perguntar sobre o que afinal mudou, de um ministro para outro, na política ambiental brasileira.

Celso S. Bredariol*

O Fórum Social Mundial contou com a participação ativa dos ministros do Meio Ambiente do governo Lula. Marina Silva participou de mesas do Fórum Mundial de Educação, de Justiça Ambiental e sobre o abuso de adolescentes, sempre voltada para a construção da militância. Carlos Minc visitou o navio do Greenpeace para discutir desmatamento e participou de mesas sobre Mudanças Climáticas e Amazônia Sustentável, trazendo posições de governo. É inevitável a gente se perguntar sobre o que afinal mudou, de um ministro para outro, na política ambiental brasileira.

Ambos têm histórias de vida admiráveis. A primeira, de aluna do Mobral a militante com Chico Mendes das causas dos seringueiros até se tornar senadora da República e ministra. O segundo, de militante secundarista contra a ditadura, exilado, ecologista, deputado estadual por mais de vinte anos se dedicando a causas ecológicas e libertárias, até chegar a ministro de Estado. O que fazem ou fizeram de diferente na política ambiental?

Primeiro é preciso situar que no período da ditadura, a política ambiental se destacou pela criação de áreas protegidas e pela estruturação do Sistema Nacional do Meio Ambiente, o SISNAMA. No período FHC a política avançou na legislação (foram criadas diversas leis como as de Recursos Hídricos, Unidades de Conservação, Crimes Ambientais e outras) e se esvaziou pelo sucateamento do SISNAMA.

A entrada de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente é marcada por propostas de resgate de Sistema Ambiental (Fortalecendo o SISNAMA foi o tema da primeira Conferência Nacional do Meio Ambiente), de combate à corrupção na administração ambiental através da Operação Corrupira com a Polícia Federal, do monitoramento do desmatamento através de Convênio com o INPE- Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, de concurso para o IBAMA e do licenciamento criterioso até dos investimentos do próprio governo. Mas o trabalho de Marina se destacou, principalmente, pelo enfrentamento de conflitos, como na questão dos transgênicos.

Numa segunda etapa da sua gestão, o foco da política se volta para a questão do combate ao desmatamento e para a proposta da exploração sustentável das florestas. A lei de florestas propõe a licitação de áreas públicas para a exploração sustentável de madeira, evitando a vinculação do desmatamento à apropriação de terras públicas. Marina se desgastou no governo pela acusação de demora no licenciamento de investimentos do governo (a ministra dos bagres) e pela disputa da gestão do Plano Amazônia Sustentável com o ministro Mangabeira Ungler. É impossível, resumir em um parágrafo, cinco anos de uma gestão, mas apontei os pontos principais que marcaram a presença de Marina Silva no governo.

Carlos Minc foi surpreendido pelo convite para ocupar o ministério. Falou demais ou até não soube o que dizer, num primeiro momento, mas identificou claramente as aspirações de mudança do governo. Para o licenciamento de atividades poluidoras, principalmente as de governo, ele mudou a estratégia, dando licenças em menor tempo, mas sobrecarregadas de exigências de monitoramento, mitigação e compensação de impactos ambientais. Se vão ser cumpridas ou não, é uma coisa para mais adiante, mas são compromissos que poderão ser cobrados pelo Ministério Público, pela Justiça e pela Sociedade.

No combate ao desmatamento, identificou os seus principais agentes e organizou operações de derrubada de fornos de carvão, apreensão de madeira, gado e soja. Num primeiro momento, ficou o impasse, o que fazer com esses bois, grãos e toras? Para sair dessa, o governo editou um decreto de regulamentação da Lei de Crimes Ambientais, dando ao IBAMA, poderes de destinar produtos apreendidos em operações de combate a crimes ambientais, sem necessidade de autorização judicial e, ao mesmo tempo, reduzindo as instâncias e prazos para recursos de multas. Ainda na fiscalização, abriu 85 ações civis públicas contra empresas e fazendeiros acusados de desmatar a Amazônia.

O sentido dessas operações foi de atingir a atividade econômica no que ela tem de valor. A prática anterior, de aplicação de multas que eram contestadas e não pagas, tinha resultados pouco expressivos, tanto econômicos quanto políticos. A partir das apreensões, abriram-se foros de discussão com setores empresariais para o estabelecimento de pactos setoriais de sustentabilidade e exigências para a certificação de produtos.

Ainda na linha da sustentabilidade, foi estabelecida uma política de preços mínimos para produtos extrativistas, contemplando populações tradicionais, diretamente interessadas na preservação das florestas. As taxas de desmatamento têm caído, mas ainda é cedo para afirmar que seja em decorrência de ações de governo. A crise econômica tem reduzido encomendas de madeira por parte da indústria de construção nos Estados Unidos, uma grande compradora de madeira.

A terceira grande mudança se refere ao lançamento do Plano Nacional sobre Mudanças Climáticas com objetivos, dentre outros, de mitigar emissões, manter elevada a participação de renováveis na matriz energética, aumentar a participação de biocombustíveis, reduzir o desmatamento, eliminar a perda líquida de florestas até 2015, reduzir a vulnerabilidade de populações, identificar impactos da mudança climática e a pesquisa científica. O lançamento desse plano permitiu a mudança de posição do Brasil em foros internacionais como o de Poznan, na Polônia, onde o país não foi mais com posições defensivas ou descomprometidas com ações de mitigação e redução de emissões. A meta de reduzir os índices de desmatamento em 70% até 2018 equivale a deixar de emitir 4,8 bilhões de toneladas de dióxido de carbono.

Outras iniciativas estão em desenvolvimento como a criação do Fundo Amazônia para captação de recursos nacionais e internacionais, o zoneamento econômico ecológico, o ecoturismo, recursos hídricos, o programa de combate à desertificação com foco na caatinga, tendo o Nordeste com a principal região sujeita a efeitos de Mudanças Climáticas. No Plano da Amazônia Sustentável, o Ministério do Meio Ambiente passou a ter uma participação mais efetiva, já que o ministério titular da gestão do plano se concentrou na questão fundiária.

A passagem de um ministro a outro demonstra uma situação de continuidade e mudança. Na verdade, as operações de apreensão não teriam sido possíveis se não tivesse havido o concurso do IBAMA e o combate à corrupção. Mudanças Climáticas foi tema da última Conferência Nacional do Meio Ambiente, preparando o lançamento de um plano. Mudou o sentido da fiscalização, se tornando um bater forte para negociar ajustes. Mudou o Licenciamento, ganhando agilidade.

O Fórum Social Mundial vem discutindo essa política através de câmaras setoriais, especialmente os investimentos em hidrelétricas na Amazônia com ameaça de destruição de etnias e o impacto dos biocombustíveis sobre a segurança alimentar. Também os trabalhadores estão discutindo as mudanças climáticas. Esperemos pelas recomendações do FSM. Vamos ter que fazer um fórum só com os ministros.

*Celso S. Bredariol é Engenheiro Agrônomo pela UFRRJ, Ms em Educação pela FGV com tese sobre Ecodesenvolvimento e Educação Ambiental, DsC em Planejamento Ambiental pelo PPE-COPPE-UFRJ com tese sobre Negociação de Conflitos Ambientais.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Saiu na imprensa - Brasil tem 12% das lavouras transgênicas de todo o mundo




Brasil tem 12% das lavouras transgênicas de todo o mundo, diz estudo



País ocupa a terceira posição no ranking dos maiores produtores de transgênicos, atrás dos Estados Unidos e da Argentina.



Por Envolverde/Agência Brasil)

Brasília - Estudo divulgado nessa quarta-feira (11/02) pela organização não-governamental (ONG) Conselho de Informações sobre Biotecnologia diz que o Brasil foi o responsável por 12% das lavouras geneticamente modificadas no mundo em 2008. Isso significa 15,8 milhões de hectares de lavouras desse tipo no país e a terceira posição no ranking dos maiores produtores de transgênicos.

De acordo com o estudo, o Brasil só fica atrás dos Estados Unidos e da Argentina. Grande parte dos transgênicos produzidos no país são soja, responsável por 14 milhões de hectares; seguida do milho, com 1,4 milhão. O restante é de lavouras de algodão.

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, informou que os terrenos onde são plantadas sementes transgênicas vão ser estudados para verificar se há algum tipo de contaminação do solo.

“Vamos vistoriar se, nas áreas do entorno daquelas onde são plantadas as sementes geneticamente modificadas, está havendo contaminação. Às vezes, há um mercado de produtos orgânicos e, se esse produto é contaminado com um transgênico, daqui a pouco ele perde o seu mercado”, afirmou Minc.

O estudo da ONG informou que a área de plantações transgênicas cresceu 10,7 milhões de hectares no ano passado em todo o mundo, 9,4% em comparação com o ano anterior. No total, as lavouras transgênicas representam 125 milhões de hectares.

Falamos em Sala de Aula - Fritoj Capra



Fritoj Capra é um dos grandes estudiosos que trabalham com o paradigma holístico. Vale a pena conferir sus entrevista no programa Roda Viva:

Paulo Markun: Boa noite. Ele alerta que a sobrevivência da humanidade nas próximas décadas vai depender da alfabetização ecológica, vai depender do conhecimento e do entendimento sobre como a natureza organizou a sustentabilidade da vida. Nós vamos entrevistar esta noite o físico, ambientalista e escritor Fritjof Capra, austríaco, para quem o Brasil não precisa se submeter à globalização porque tem muitas riquezas e produz o suficiente para o seu próprio sustento.

[Comentarista]: Doutor em física pela Universidade de Viena, Fritjof Capra tornou-se conhecido no mundo e no Brasil nos anos 70 e 80 a partir de dois best-sellers: O tao da física, livro onde estabeleceu paralelos entre a física moderna e o misticismo oriental e O ponto de mutação, onde propôs uma nova visão de mundo para superar a crise da sociedade moderna. Nos últimos anos, Capra concentrou seu trabalho nas questões ecológicas e tornou-se um ativo ambientalista. Já veio várias vezes ao Brasil para seminários e cursos sobre desenvolvimento sustentável, energias alternativas e alfabetização ecológica. É um dos fundadores do Centro de Eco-Alfabetização de Berkeley, na Califórnia, onde promove a divulgação do pensamento ecológico na rede escolar americana. Em seu último livro, As conexões ocultas, Capra afirma que tudo na natureza está interligado e que os ecossistemas representam teias de alimentos, rede de organismos. Fritjof Capra coloca que conhecer e reconhecer essas redes deverá se tornar qualificação indispensável para todo tipo de profissional, especialmente empresários e políticos.

Paulo Markun: Para entrevistar o físico Fritjof Capra, nós convidamos: Ulisses Capozzoli, presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Científico; Flávio Dieguez, jornalista especializado em assuntos científicos e diretor da Agência Brasil de Notícias; Miriam Duailibi, coordenadora da ONG Instituto Ecoar para a Cidadania, especialista em educação para sustentabilidade; Darlene Menconi, editora de ciência, tecnologia e meio ambiente da revista Isto É; Marcos Sorrentino, diretor de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente; Edgard de Assis Carvalho, professor do Departamento de Antropologia da PUC; Marcelo Knobel, professor do Instituto de Física e coordenador do Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade da Unicamp. Também temos a participação do cartunista Paulo Caruso, registrando em seus desenhos os momentos e os flagrantes do programa. Boa noite, Fritjof.

Fritjof Capra: Boa noite.

Paulo Markun: Há 30 anos, quando o senhor escreveu o primeiro livro que tornou o seu nome mundialmente conhecido, O tao da física, segundo o senhor próprio relata, aquela idéia de que tudo está interligado - se é que eu estou simplificando bem a coisa - surgiu numa praia dos Estados Unidos, onde o senhor tinha um visual muito agradável. Eu estava ontem em uma praia do litoral de Santa Catarina, no sul do Brasil, e não tive insight nenhum, não tive idéia nenhuma, mas vi um carrinho de vendedor de água de coco, carrinho feito de plástico, que vendia água de coco em um recipiente de plástico e finalmente entregava para o consumidor um canudo, para se beber a água de coco, de plástico. Uma prova, imagino, de que essa questão da conscientização ambiental não é tão fácil e que, talvez, o fato simples das coisas todas se interligarem não seja suficiente para que o mundo tome consciência de que é preciso preservar a natureza. E eu pergunto: como o senhor acha que isso vai ser obtido a curto prazo, porque a verdade é que os problemas estão crescendo vertiginosamente.

Fritjof Capra: Antes de responder, eu quero dizer em português que é um grande prazer para mim estar neste programa. Sinto muito que o meu português não é suficiente para discutir idéias com vocês em seu idioma, então vou ter que falar em inglês.

Paulo Markun: Nenhum problema, nós cuidaremos das necessárias legendas.

Fritjof Capra: Considero muito boa essa história com que iniciou o programa. Além de estar relacionada a mim pessoalmente, quando comecei essa jornada, ele também mostra que ecologia não é fácil. Dizer que tudo está interligado não basta. É preciso saber mais. O que chamo de alfabetização ecológica é a compreensão dos princípios básicos da ecologia para entender como a natureza preservou a vida durante bilhões de anos, como as coisas estão interligadas. Pensar em termos de redes, em termos de ciclos, pensar de onde vem a energia, refletir sobre o papel da biodiversidade e assim por diante. Isso é conhecimento sofisticado também do ponto de vista científico, portanto, estimulante para o intelecto. Quando obtemos esse conhecimento, existe um outro problema, como traduzir isso em política, em estilos de vida. Porque ao aprendermos coisas dos ecossistemas, não podemos aprender política, democracia, cultura. Estas são questões do reino humano. Vai custar muito trabalho traduzir conhecimento ecológico em política e comportamento humano.

Paulo Markun: Agora, voltando a esse exemplo do vendedor de água de coco, a sensação que eu tenho também é que toda a sofisticação intelectual dos ambientalistas e todos os argumentos que são muito consistentes dificilmente ultrapassam um limite muito claro das pessoas que é a necessidade da sobrevivência. Esse vendedor de água de coco, eu tenho certeza, não tem condição tecnológica de fazer algo diferente. Ele não tem educação formal, ele não tem emprego formal, e a maneira de vender água de coco ali, até do ponto de vista higiênico, é melhor do que a média do que acontece nas praias brasileiras, e imagino, em muitos lugares. Como que se resolve isso?

Fritjof Capra: O vendedor não tem uma educação formal, mas recebe muita educação informal. Porque, acredito, ele deve assistir à TV todo dia. E na TV, nada contra o seu programa que eu adoro, mas a TV em geral está dominada pela publicidade, que nos diz que, cada vez mais, produtos novos irão nos tornar mais felizes. Em termos de sociedade, tanto no norte como no sul, agora, chegamos ao ponto de associar o progresso ao progresso tecnológico. Desse modo, ele pensa que ir do facão tradicional para só cortar o coco, e depois pôr um canudinho natural e beber a água, um processo maravilhoso e delicioso, que pode ter isso em uma garrafa de plástico, com canudo de plástico, é progresso. Precisamos mudar, também no nosso sistema educacional, a associação de progresso à melhora do bem-estar humano, com a ajuda da tecnologia. Mas não melhorar a tecnologia à custa do bem-estar humano.


Falamos em Sala de Aula - Edgar Morin


Na aula do dia 14-02-09, o nome de Edgar Morin e seu trabalho sobre a teoria da complexidade foi bastante citado. Segue uma entrevista concedida ao programa Roda Viva por este grande pensador:

Edgar Morin
18/12/2000
Um dos principais expoentes do pensamento mundial, Edgar Morin defende a desfragmentação do conhecimento e a união entre a ciência e o humanismo

Heródoto Barbeiro: Olá, boa noite. Ele diz que o sistema de educação não produz apenas conhecimento e elucidação. Produz também ignorância e cegueira. A educação dominante troca o todo pela parte, separa os objetos do conhecimento de seu contexto, fragmentando o mundo, fracionando os problemas e impedindo as pessoas que tenham uma compreensão melhor da realidade. São idéias do filósofo, sociólogo, antropólogo e historiador francês, Edgar Morin, que o Roda Viva entrevista esta noite. Nascido em Paris, onde cresceu e estudou e construiu uma rica carreira acadêmica, Edgar Morin, um dos mais importantes e polêmicos intelectuais europeus, é diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica de Paris, é também fundador do Centro de Estudos Transdisciplinares da Escola de Altos Estudos Sociais de Paris, presidente da Agência Européia para a Cultura junto à Unesco, em Paris, e presidente da Associação para o Pensamento Complexo. Em sua obra, que já passa de meia centena de livros, Edgar Morin insiste que a reforma do pensamento é uma necessidade-chave da sociedade. É a reforma do pensamento que permitiria o pleno emprego da inteligência, de forma que os cidadãos possam realmente entender e enfrentar os problemas contemporâneos. É a idéia de um pensamento não-fragmentado. A idéias de que o homem, ao analisar a vida e o mundo, perceba tudo o que está a sua volta e assim construa um entendimento melhor e mais abrangente a respeito dos problemas da humanidade. Para entrevistar Edgar Morin, nós convidamos Carlos Haag, o editor do caderno de cultura do jornal Valor [Valor Econômico]; o médico psicoterapeuta Humberto Mariotti, coordenador do grupo de complexidade e pensamento sistêmico da Associação Palas Athena, de São Paulo; a crítica literária Nely Novaes Coelho, do suplemento de Cultura do jornal O Estado de S. Paulo e professora de pós-graduação em literatura portuguesa e brasileira da USP; a jornalista Neide Duarte, do programa Caminhos e Parcerias, da TV Cultura, de São Paulo; o sociólogo Danilo Miranda, diretor regional do Sesc/SP; o jornalista Manoel da Costa Pinto, editor da revista Cult e o antropólogo Edgard de Assis Carvalho, da PUC/SP. Como o programa está sendo gravado, não será possível a participação dos telespectadores. Dr. Morin, boa noite.

Edgar Morin: Boa noite.

Heródoto Barbeiro: Dr. Morin, eu gostaria que, inicialmente, o senhor fizesse um comentário a respeito de um artigo que o senhor escreveu na imprensa francesa - provavelmente no jornal Le Monde - em que o senhor saudava uma série de manifestações que aconteceram em Seattle, nos Estados Unidos, quando os países ricos lá se reuniram. E o senhor dizia que, nesta manifestação, a reação ao globalismo não se faz com parte dos políticos, não se faz com sindicatos, mas se faz com as ONGs, as organizações não-governamentais. Eu gostaria que o senhor nos dissesse qual a importância, nesse mundo global, das organizações não-governamentais. São elas que vão representar o cidadão, na opinião do senhor?

Edgar Morin: Eu acho que muitas organizações não-governamentais são, por assim dizer, a vanguarda de uma cidadania terrestre. Porque a tomada de consciência dos problemas universais é algo que se impõe, sobretudo, porque há uma tendência no mundo que leva cada nação, cada província a se fechar em seus próprios pontos de vista. As organizações não-governamentais como a Anistia Internacional, que defende os direitos humanos, seja qual for o regime do país, organizações como a Greenpeace, defensoras da biosfera em todo lugar, organizações como a Survival International, defensoras dos povos menores ameaçados em todo lugar, não só na Amazônia, mas na Ásia e outras regiões, associações de mulheres, associações diversas desempenham um papel extremamente útil. Não sou contra partidos políticos ou sindicatos, mas hoje existem formas de ação espontânea que revelaram sua eficiência, particularmente, em Seattle. Acho que o que aconteceu em Seattle é que, com relação ao desenfreio, digamos, o desenfreio desta economia guiada por multinacionais e que tende a homogeneizar o mundo tende a desagradar não somente à natureza, mas também às culturas locais e regionais, a resposta não podia ser apenas local, de reclusão. Era preciso que as diversas culturas ameaçadas se encontrassem e se unissem. E, para mim, Seattle foi interessante, pois, pela primeira vez, entendeu-se que um problema mundial pedia uma resposta mundial. É claro, os que se reuniram tanto na conferência oficial tinham divergências profundas entre asiáticos, europeus e americanos, como os que estavam na reunião não-oficial não tinham exatamente os mesmos pontos de vista. De fato, é muito difícil conciliar os interesses dos africanos, dos agricultores americanos, dos... franceses, que criam cabras e fazem queijo Roquefort, mas eles compreenderam que deviam, juntos, defender as culturas. Na minha opinião, a ligação entre o regional e o mundial é importante. O mundo não pode ser algo que comporte uma civilização homogênea para todos. E na minha opinião é, ao mesmo tempo, uma defesa da qualidade de vida. A qualidade de vida é ameaçada por... Vimos isto com doença da vaca louca, que significa que um certo alimento feito com resíduos de ossadas é uma doença que contamina e provocou esse mal. Temos o mesmo problema em outros campos. E acho que a defesa conjunta da vida... porque a política é uma coisa importante, mas, digamos, para a sobrevivência. Quando há fome, pobreza, é preciso ajudar os seres humanos a sobreviver. Mas não basta sobreviver, é preciso viver. São duas coisas diferentes. Viver é poder gozar a vida. Gozar a vida não é apenas gozar da liberdade, do amor, da amizade, das festas, jogos, mas também gozar da comida, do bom vinho, das caipirinhas [risos]. Mas, na minha opinião, sabemos que, doravante, a defesa da qualidade de vida é também ligada à defesa das culturas e, ao mesmo tempo, à idéia de uma globalização, não apenas econômica, e sim de outra globalização.


Veja a continuação da entrevista em http://www.rodaviva.fapesp.br/


Falamos em sala de aula - Ciclos globais de carbono, nitrogênio e enxofre



Olá pessoas! Vão aqui textos e materiais sobre temáticas citadas na nossa aula do dia 14-02-09:

Ciclos globais de carbono, nitrogênio e enxofre: a importância na química da atmosfera*

Claudia Rocha Martins, Pedro Afonso de Paula Pereira, Wilson Araújo Lopes e Jailson B. de Andrade

atmosfera terreste, ciclo do carbono, ciclo do nitrogênio, ciclo do enxofre

O estudo químico da atmosfera busca compreender este sistema e suas interações com os outros compartimentos do planeta, em termos de seus constituintes naturais e artificialmente introduzidos. A compreensão envolve a identificação das fontes de emissão, das formas de transporte e remoção e, também, o acompanhamento das transformações e concentrações em escalas locais, regionais e globais. Neste artigo são apresentadas as diferentes camadas da atmosfera terrestre, suas características e constituintes químicos principais e os ciclos globais do carbono, nitrogênio e enxofre e seus impactos no ambiente.


* Este texto foi apresentado em sala pelo Professor Petronildo.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Saiu na imprensa - Atraso torna Cuba país ecológico exemplar,


Atraso torna Cuba país ecológico exemplar, diz revista
04/02/2009 - 19h52; da Efe, em Berlim

A revista alemã de geografia e natureza "GEO" considera Cuba um país ecológico exemplar, com grandes reservas naturais e uma rica biodiversidade. Isso se deve a um desenvolvimento limitado da ilha, de acordo com a publicação.

Em uma edição especial de 156 páginas, a GEO divulga um estudo da WWF (World Wildlife Fund) que aponta Cuba como o único país do mundo com uma economia "sustentável".

No entanto, Cuba deve seu positivo balanço ecológico "a uma mistura de política verde visionária, uma grande incompetência econômica e um toque de brutalidade vermelha", afirma o responsável do especial de GEO sobre a ilha, Patrick Symmes.

O número especial da revista sobre Cuba, entregue hoje na Alemanha, ressalta que o estudo ecológico realizado está cheio de contrastes.

Nesse sentido, destaca que Cuba tem mais parques e reservas naturais, assim como maior biodiversidade, na comparação com todos os países da região.

Saiu na imprensa - Movimento socioambientalista rechaça propostas do governo



Movimento socioambientalista rechaça propostas do governo


Decisão de reduzir a área de reserva legal às margens das rodovias BR-163 (Cuiabá-Santarém) e BR-230 (Transamazônica) e proposta de flexibilização dos licenciamentos das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na região amazônica provocam nova polêmica no governo e imediata reação contrária da sociedade civil.

Maurício Thuswohl

RIO DE JANEIRO – O avanço nas definições sobre as políticas ambientais para a Amazônia faz crescer no governo federal um clima de tensão, seja internamente ou no âmbito de sua relação com o movimento socioambientalista. Nos últimos dias, a decisão de reduzir a área de reserva legal nas propriedades localizadas às margens das rodovias BR-163 (Cuiabá-Santarém) e BR-230 (Transamazônica) e a apresentação de uma proposta de flexibilização dos licenciamentos das obras do PAC na região amazônica provocaram novas polêmicas entre ministros e a imediata reação contrária de algumas organizações da sociedade civil.

Aprovada em 5 de fevereiro pela Comissão Coordenadora do Zoneamento Ecológico-Econômico do Território Nacional, colegiado criado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e formado por 13 ministérios, a redução de 80% para 50% da área de reserva legal mínima obrigatória nas proximidades da BR-163 e da BR-230 tem, segundo o governo, o objetivo de conter o crescente desmatamento nessas duas áreas. Com a nova regra, aqueles proprietários que já desmataram suas terras (maioria dos casos na área de influência das duas rodovias) serão obrigados a reflorestar apenas metade delas, podendo utilizar a outra metade para a agricultura e a pecuária.

A decisão da comissão interministerial fará com que cerca de 700 mil hectares de floresta deixem de ser recompostos com espécies nativas da Amazônia. Apesar de ter sido aprovada de forma consensual, a nova regra foi recebida com reticências em alguns ministérios, como demonstrou o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) que, logo após defender a proposta de redução da reserva legal para um grupo de jornalistas e afirmar que “nessas áreas, o desmatamento atinge 90%”, preferiu se ausentar da votação.

No movimento socioambientalista, a novidade não foi bem recebida: “Se o nível de desmatamento no entorno das duas rodovias é grande, é porque os órgãos do poder público nunca tiveram estrutura para combater esse crime ambiental. Quem garante que o governo agora vai fazer os proprietários cumprirem o acordo? Essa decisão atende a algumas demandas, mas pode ser um equívoco muito grande”, avalia Ivan Marcelo, secretário-executivo do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais pelo Meio Ambiente (FBOMS).

O argumento, usado pelo governo, de que as novas regras aumentarão a legalidade às margens da BR-163 e da BR-230 é refutado pelo diretor de Políticas Públicas do Greenpeace, Sérgio Leitão: “O problema não é se a reserva legal é de 80%, de 50% ou de 30%, mas sim o fato de não haver fiscalização para garantir que se cumpra a lei. As novas regas anunciadas servirão mais para perdoar o passado do que para evitar futuros crimes”, afirma.

“Regime especial”

Outro motivo de inquietação dentro e fora do governo foi a proposta de flexibilização do licenciamento ambiental para as obras do PAC na Amazônia Legal, elaborada pelo ministro Mangabeira Unger (Secretaria de Assuntos Estratégicos). Na proposta, que já foi encaminhada a Lula, Mangabeira defende um “regime jurídico especial para os projetos do PAC na Amazônia” e sugere que todo o processo de licenciamento ambiental dure no máximo 120 dias, “inclusive nas unidades de conservação, terras indígenas e sítios arqueológicos”.

A idéia teve pronta oposição de Carlos Minc, que classificou a proposta apresentada por Mangabeira de “inconstitucional” e se queixou do fato de o Ministério do Meio Ambiente não ter sido procurado previamente para discutir o tema: “Nenhum outro órgão do governo pode legislar sobre meio ambiente sem a anuência do MMA”, disse o ministro, em entrevista ao jornal O Globo.

Em resposta a Mangabeira, diversas organizações do movimento socioambientalista enviaram ao presidente Lula uma carta na qual afirmam que “não é a flexibilização do licenciamento que irá resolver a falta de estrutura dos órgãos públicos ambientais e a falta de governança que imperam nos assuntos ligados à Amazônia”.

O documento, assinado pelo FBOMS, pelo Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) e pelo Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), entre outras importantes redes, afirma também que “as conquistas na política ambiental brasileira vêm sendo desmontadas por sucessivos governos, principalmente o atual”, e pede a Lula que, ao contrário do que deseja Mangabeira, “torne ainda mais eficaz a ferramenta de controle ambiental na Amazônia”.

Para ler e refletir



Agenda 21

por Michelle Milhomem, assessora técnica do Programa Agenda 21 do Ministério do Meio Ambiente, e Daisy Cordeiro, pedagoga e consultora do Programa

Saiba como a escola pode discutir a sustentabilidade do planeta, um projeto que atinge mais de 4 mil instituições de ensino


A Agenda 21 é um processo de planejamento participativo no qual o governo e a sociedade definem e pactuam um plano de ação para o desenvolvimento sustentável, além de propor uma reflexão sobre as condições de vida do planeta. Tal reflexão tem sido feita em vários segmentos da sociedade e pode estender-se às escolas: a Agenda 21 Local pode ser feita a partir da Agenda 21 na Escola.

A Agenda 21 na Escola incentiva e soma esforços com o Grêmio Estudantil, a Associação de Pais e Mestres, o Conselho da Escola, a comunidade escolar, além de outras organizações, para discutir e realizar ações de proteção do meio ambiente e da promoção de ações que venham contribuir para a melhoria da qualidade de vida e a construção de sociedades sustentáveis.

É, portanto, um processo que, assim como a Educação Ambiental, deve ser inserido de forma transversal em todas as disciplinas da escola e nos projetos que envolvam a comunidade. Na prática, um grupo de professores e alunos interessados pode começar a construir a Agenda 21 na Escola.

O primeiro passo é a criação de uma comissão para mobilizar, desenvolver ações, acompanhar as atividades de Educação Ambiental e incentivar a construção da Agenda 21 na Escola. Mais de 4 mil escolas no País criaram Comissões de Meio Ambiente e Qualidade de Vida (Com-Vida), que são espaços de debates onde se definem as responsabilidades que a escola vai assumir, para contribuir com a sustentabilidade da comunidade local e construir a sua Agenda 21.

Dessa forma, a Agenda 21 é um importante instrumento para ampliar as ações da Com-Vida, pois possibilita o diálogo da escola com a comunidade da rua, do bairro, do município e nos faz perceber que comunidades sustentáveis só acontecem por meio de parcerias.

Os problemas vividos pela escola são muitas vezes mais amplos que o espaço físico e social, são da comunidade. A escola tem uma série de limitações para desenvolver os projetos que ela cria e encontra novas forças quando interage com outros parceiros, como, por exemplo, a Agenda 21 Local, ou com a rede de Com-Vida.

A parceria proposta leva a um esforço coletivo que definirá ações em conjunto, que implicam identificação das aspirações das famílias, comunidades e do poder público, possibilitando o exercício da cidadania ativa, a articulação dos objetivos e metas traçadas, com o propósito de tornar real e cotidiana a busca para a melhoria da qualidade de vida.

Nesse sentido, experiências podem ser encontradas nos municípios de Salvador (BA), Rondon do Pará e Santarém (PA), João Pessoa (PB), Petrópolis, Rio de Janeiro e Volta Redonda (RJ), Caraguatatuba, Ilhabela, Pilar do Sul, São Paulo, São Sebastião e Ubatuba (SP), onde as Agendas 21 na Escola estão sendo construídas dentro de um processo participativo, dialogando com os Fóruns das Agendas 21 Locais.

Para contribuir com a ação, oficinas de formação de professores e alunos estão sendo realizadas com o objetivo de difundir os conceitos da Agenda 21 e os princípios da Carta da Terra, visando refletir sobre a importância da participação de todos na construção da Agenda 21 Local e nas Escolas.

Para entender melhor os problemas das escolas e definições de ações prioritárias, foram criados grupos de trabalho permanentes, compostos de professores nos Fóruns da Agenda 21 Local. Isso tem permitido a participação ativa dos professores e alunos como elementos estratégicos nos processos de Agenda 21.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

VALE-TUDO PUBLICITÁRIO



VALE-TUDO PUBLICITÁRIO*

Neurociências a serviço do mercado
A investigação da atividade cerebral mostrou as áreas que devem ser estimuladas para tornar um produto altamente desejável. E, lançando mão do neuromarketing, uma centena de empresas já utilizam esses conhecimentos para vender sempre mais
Marie Bénilde

Reza a lenda que, em outubro de 1919, Lenin teria visitado o fisiologista Ivan Pavlov para ver como os trabalhos desse sobre os reflexos condicionados do cérebro podiam contribuir para a concepção do “novo homem” que os bolcheviques tentavam moldar na época. O cientista talvez servisse à propaganda do regime, associando, por meio de estímulos externos, pulsões instintivas a automatismos de transformação coletiva. Na verdade, Pavlov não foi de nenhuma valia para os bolcheviques, mas esse caso, verdadeiro ou falso, ilustra um fantasma que rondou o século 20: o da possessão de espíritos pela manipulação do inconsciente. Tal coisa permitiria vencer todas as resistências que podem acompanhar o uso da razão crítica. Desde então, uma propaganda é considerada eficaz quando percebe que sua assimilação será melhor se o receptor for psicologicamente condicionado a engoli-la — e a torná-la como sua.

As sociedades democráticas baniram de sua língua comum a palavra “propaganda”, que ficou associada apenas aos governos totalitários. No entanto, a exploração do cérebro com fins mercantis e a conseqüente manipulação das massas mostram que a sociedade de consumo não está longe disso. Ainda nos lembramos da famosa frase de Patrick Le Lay, presidente do canal francês TF1, que admitiu, em 2004, que sua rede tentava vender à Coca-Cola o “tempo de cérebro humano disponível”. O exemplo dessa marca — parceira privilegiada do TF1 — não se deve absolutamente ao acaso. No verão de 2003, Read Montague, neurologista do Baylor College of Medicine de Houston, mostrou que, se num blind test gustativo a concorrente Pepsi era a preferida, o inverso ocorria assim que se identificava claramente a bebida como sendo Coca-Cola. Os participantes da experiência declaravam então preferir o refrigerante das cores vermelha e branca.

Desse modo ficou demonstrada a superioridade da marca considerada como ás do branding, essa técnica que visa expor um logotipo no máximo de suportes, levando-o, até mesmo, a se imiscuir nos conteúdos (filmes, séries). Para estabelecer a conexão entre a imagem da marca e a estimulação do cérebro, a ciência recorreu a técnicas até então utilizadas com finalidades médicas para a detecção de tumores ou de acidentes cerebrais, como, por exemplo, imagens por ressonância magnética (IRM). Monitorando a atividade cerebral de seus pacientes, Montague observou que a região precisa do cérebro requisitada quando a pessoa via uma marca, o córtex pré-frontal médio, apelava para a memória e tinha um papel importante nos processos cognitivos. Por outro lado, o blind test gustativo envolvia a área cerebral denominada “putâmen ventral”, ligada à idéia de recompensa. A partir de abril de 2004, a Faculdade de Medicina de Baylor organizou em Houston o primeiro simpósio internacional consagrado às aplicações das imagens cerebrais ao marketing.

Três anos antes, em Atlanta, cidade onde fica a sede da Coca-Cola Company, o instituto Brighthouse, fundado pelo publicitário Joe Reyman, criava um grupo de especialistas encarregado de comercializar os ensinamentos de marketing extraídos das neurociências. O diretor científico do instituto, Clint Kilts, chegou às mesmas conclusões de seu colega de Houston, localizando no córtex pré-frontal médio a zona cerebral que reage às imagens publicitárias. Mas ele observou que essa reação é ainda mais significativa pelo fato de o sujeito se identificar com a imagem do produto, sendo tentado a dizer “isso é exatamente eu” [1]. A famosa região-chave do neuromarketing é efetivamente associada à auto-imagem da pessoa e ao seu conhecimento íntimo de si mesma (assim, por exemplo, os pacientes que têm o córtex pré-frontal médio lesado depois de um acidente sofrem freqüentemente perturbações da personalidade). Como explica Annette Schäfer na revista Cerveau et Psycho, “eis aqui o motor do comércio. O córtex pré-frontal médio nos faz gostar do que os outros gostam. Assim, conseguir estimulá-lo poderia ser um objetivo importante de uma campanha publicitária perfeita” [2]. Por isso, o córtex pré-frontal médio é para os neuromarqueteiros a pedra filosofal de uma alquimia perfeita: a operação que consiste em transformar todo o amor por si mesmo enquanto si mesmo (o narcisismo) em amor por si mesmo enquanto outro (o objeto publicitário).

Segundo Olivier Oullier, pesquisador de neurociências da Florida Atlantic University, existe atualmente uma centena de empresas no mundo que utilizam as técnicas do neuromarketing [3]. Contudo, elas são muito discretas com relação às experiências realizadas, temendo levantar uma onda de reprovação na opinião pública. Em 2003, por exemplo, uma dessas empresas, a Daimler Chrysler, confiou ao Centro Hospitalar de Ulm, na Alemanha, a tarefa de escanear cérebros submetendo imagens de carros sofisticados a uma dezena de homens.

Constatou-se então a importância do “núcleo accumbens”, região ligada à sensação de recompensa. A experiência mostrou que o objeto de consumo pode se assemelhar a um objeto de desejo por meio de um verdadeiro processo de personificação. “Quando olhavam os carros, estes lhes lembravam rostos; os faróis pareciam um pouco com os olhos”, expõe Henrik Walter, psiquiatra da Universidade de Ulm, a propósito dos indivíduos investigados [4]. Os publicitários viram nisso a confirmação de um procedimento amplamente utilizado: é preciso reforçar nas peças publicitárias a correlação instintiva entre desejo sexual e pulsão de compra. “O consumidor deve poder sentir a marca, agarrar-se a ela como um amante”, afirma, sem sorrir, Kevin Roberts, diretor executivo da Saatchi & Saatchi [5].

Esses empreendimentos de validação científica da publicidade devem ser levados a sério? O fato é que, aos olhos dos profissionais, eles têm o mérito de aumentar a garantia da difusão de mensagens publicitárias na mídia, num momento em que a internet permite, clique após clique, seguir as pegadas do comportamento do consumidor. Assim, o neuromarketing nasce do encontro entre executivos de empresas preocupados em legitimar internamente suas despesas de comunicação, agências de publicidade desejosas de valorizar sua contribuição (a agência BBDO, de Dusseldorf, trabalha com o conceito de brainbranding, que tenta determinar como certas marcas entram na memória episódica do cérebro) e grandes mídias inquietas com o aumento do poder dos novos vetores de comunicação.

O sindicato francês da publicidade televisada, presidido por Claude Cohen, também presidente da TF1 Publicité, há algum tempo se interessa pelo que chama de “mecanismos de memória não conscientes”. Por meio do instituto privado Impact Mémoire, que se esforça por tirar partido das “técnicas de imagens funcionais cerebrais”, realizou um estudo com 120 pessoas sob o pretexto de testar a sua acuidade visual. Enquanto as cobaias tentavam detectar quadradinhos verdes em telas de computadores, difundiam-se intermitentemente publicidades num lugar bem visível. Paralelamente, a mesma experiência era realizada com spots de rádio e cartazes.

Como sugere a lógica, a mídia que associa som e imagem é a que obtém a melhor pontuação de memorização inconsciente das mensagens publicitárias. Um dos fundadores do Impact Mémoire, Bruno Poyet, resumiu o propósito do teste. Segundo ele, “a atenção é necessária a uma boa retenção mnésica. Uma conotação emocional forte acentua a atenção. Uma grande carga emocional gera a secreção de certas substâncias pela amígdala e essas substâncias favorecem a memorização” [6].

É esse contexto “emocional”, propício à publicidade destinada a donas de casa de menos de cinqüenta anos, que a TF1 procura criar em seus programas. Em novembro de 2003, o canal publicou na imprensa especializada um anúncio com uma frase eloqüente: “Uma publicidade inserida no meio de um programa do TF1 obtém 23% de memorização suplementar”. O neurologista Bernard Croisile, outro fundador da Impact Mémoire, lembra que se “nenhum estudo existente permite provar que o conteúdo de uma emissão condiciona a resposta às publicidades que virão a seguir […] o que se pode dizer é que, quando estamos numa situação emocionalmente positiva, retemos melhor os elementos positivos, do mesmo modo como os depressivos assimilam melhor as informações negativas [7]. Trata-se, portanto, de oferecer ao telespectador a sua dose de emoção prazerosa.

Assim, a implicação das neurociências — ou de seus avatares — nas indústrias da publicidade tem um futuro auspicioso diante de si. Em março de 2007, a Omnicom, líder mundial da publicidade, lançou na França a agência de consultoria em mídia PHD. Essa rede, surgida na Grã-Bretanha, apóia-se num aplicativo de neuroplanning criado a partir de estudos realizados por meio de ressonância magnética. A PHD pretende mostrar às empresas as zonas do cérebro que devem ser estimuladas de acordo com os objetivos de suas campanhas e das mídias utilizadas.

O conhecimento íntimo do cérebro do consumidor não pode ter outro resultado senão incitar as empresas, e os responsáveis por sua publicidade, a transcender os limites que normalmente lhes são reservados para comunicar. Na verdade, a excelência das condições de receptividade de uma marca é julgada tanto maior quanto menos o “alvo” tem consciência de ser visado. É isso que explica o avanço do advertising”, esse cruzamento híbrido da publicidade com o entretenimento, do qual se tem um exemplo recente no jogo da França com a Argentina, realizado no Stade de France durante a Copa do Mundo de Rugby. Jovens modelos vestidas com roupas íntimas dançaram nos degraus, seguidas atentamente pelas câmeras do TF1, numa “criação” da agência de publicidade Fred-Farid Lambert para a marca Dim.

O merchandising, a inserção de produtos nos conteúdos de filmes, séries de tevê etc., também ganha terreno, como testemunha o surgimento de contratos globais ligando produtores, difusores e anunciantes. Em 2001, o conglomerado da Procter & Gamble fechou um contrato de 500 milhões de dólares com o grupo Viacom e a cadeia CBS para introduzir seus produtos nos cenários. Quatro anos depois, foi a vez de a Volkswagen investir 200 milhões de dólares para pôr seus veículos nos filmes dos Estúdios Universal e de sua cadeia, a NBC. Em 2005, a filial francesa da central de compras de espaço Aegis criou também a Carat Sponsorship Entertainment para introduzir a publicidade no conteúdo dos programas e torná-la mais bem aceita pelo consumidor. Ela foi imitada em 2007 pela filial Havas Entertainment.

Se ainda se supõe que o Conselho Superior do Audiovisual da França cuida de proibir qualquer publicidade clandestina na televisão, a transposição para a lei francesa da diretriz européia Televisões sem Fronteira, anunciada para 2008, promete autorizar definitivamente a inserção de produtos nos programas, como escancaradamente acontece nos Estados Unidos. O limite diário de doze minutos de publicidade para cada hora deverá assim ser abrandado de modo a permitir a difusão de mais publicidade durante o horário nobre. Paralelamente, prosperam emissões como Question Maison (França 5) ou Du Côté de Chez Vou (TF1), que devem sua existência exclusivamente à entrada da marca Leroy Merlin na produção de conteúdos. É claro que o inconsciente do telespectador não foi reivindicado abertamente. Mas, por trás do telespectador, ainda e sempre, é o consumidor que se busca.

[1] Ver “There is a sucker born in every medial prefrontal cortex”, The New York Times Magazine, 26 de outubro de 2003.

[2] “Vous avez dit neuromarketing?”, Cerveau et Psycho n.º 7, setembro-novembro de 2004.

[3] Ver “Neuromarketing: les bases d’une discipline nouvelle”, em 20 de fevereiro de 2007.

[4] Ver “There is a sucker born in every medial prefrontal cortex”, The New York Times Magazine, 26 de outubro de 2003.

[5] Stratégies, Issy-les-Moulineaux, 11 de novembro de 2004.

[6] Ver o site da associação das agências de consultoria de comunicação.

[7] Stratégies, 7 de outubro de 2004.

Extraído do site:
http://diplo.uol.com.br/2007-11,a2000?var_recherche=neuroci%C3%AAncia

* material extra, leitura não obrigatória para as aulas.

Os Donos do Poder gerar



Os Donos do Poder gerar*

Resenha do texto: FAORO, Raymundo. (1979). Os Donos do Poder: Formação do Patronato Político Brasileiro. (vls.1 e 2). Porto Alegre: Ed. Globo.

Por: Sabrina Evangelista Medeiros

Em novembro de 2000, Raymundo Faoro, aos 75 anos, fora eleito para a cadeira de número 6 da Academia Brasileira de Letras – ABL (antes de Barbosa Lima Sobrinho, que morreu recentemente). Um dos maiores motivos para a sua eleição e conseqüente vitória foi a sua mais importante obra, Os Donos do Poder, de 1958. Três anos depois, foi vítima de enfisema pulmonar e morreu. Apesar de tamanho prestígio, ao longo de sua carreira o jurista Raymundo Faoro recebeu críticas contundentes de gerações e espectros diferentes da intelectualidade e da política, que não deixaram de concordar sobre a relevância para a história e pensamento político brasileiro de suas obras.
Particularmente, o marco maior de Os Donos do Poder seria a ansiedade de tratar, com detalhes, tamanha história brasileira (desde as origens do Estado Português colonizador) afastando-se das interpretações marxistas, então em voga na intelectualidade. Talvez pela intensidade de suas análises, rigorosamente combatidas pela esquerda que acusava-o de ser um radical liberal, Raymundo Faoro pôde ser tão lido e respeitado. Nesse sentido, Os Donos do Poder não ganhou também a simpatia da direita que, ao tempo do lançamento da obra, acreditava que o país estava vivendo um estágio avançado de capitalismo, com instituições sólidas e uma economia crescente; o que, finalmente, contrastava com o que Faoro escrevia sobre o perpetuamento do patrimonialismo no Brasil.
Os Donos do Poder é, por excelência, uma obra de mapeamento da evolução política do Brasil, desde a herança absolutista portuguesa - onde o Estado é analisado segundo a esfera de atuação dos ensejos pessoais do rei – até a República Velha e o Estado Autoritário Varguista – pelo qual permaneceram estreitos os laços entre a esfera pública (a burocracia) e a privada (o estamento que controla a primeira).
No prefácio da edição em análise nesta resenha, citando Montaigne, Faoro diz que seu ensaio permanecia inalterado segundo suas hipóteses e linhas centrais, e que o formato tinha sido apenas ajustado às suas concepções mais recentes. Reiterava dizendo que o conceitos básicos – como feudalismo, patrimonialismo e estamento burocrático - continuavam sob o enfoque anterior. E dizia ainda, defendendo-se de acusações diversas: “Advirta-se que este livro não segue (...) a linha de pensamento de Max Weber. (...) De outro lado, este ensaio se afasta do marxismo ortodoxo, sobretudo ao sustentar a autonomia de uma camada de poder, não diluída numa infra-estrutura esquemática, que daria conteúdo econômico a fatores de outra índole”.
Assim sendo, Raymundo Faoro confirma suas escolhas dando um tom de originalidade ao entendimento das instituições públicas brasileiras. Ao começar pela tríade proposta – feudalismo, estamento burocrático e patrimonialismo – cada um desses conceitos, seqüencialmente, conjuga o seguinte. Resumidamente (correndo o risco de ser simplista), o feudalismo constituiria a divisão social predominante da Idade Média que daria origem às conquistas políticas de um dos estamentos – considerados as divisões da sociedade segundo a posição não somente econômica mas, sobretudo, cultural (o status, prestígio) – sob a forma corporativa (burocrática) e, consequentemente, o usufruto deste estamento da esfera de atuação política (gerando os laços patrimonialistas nas instâncias do Estado).
O primeiro capítulo traça o que seriam as origens do Estado Português. Essencialmente, Faoro trata de, na qualidade de jurista, demonstrar as condições administrativas de que gozou o Estado Português ao se tornar um Estado formado pelo gerenciamento dos interesses de uma burguesia comercial ascendente, e não por relativa autonomia política de senhores feudais.
Em sua concepção história, assim, o feudalismo não teria existido em Portugal, a não ser pela sua condição de atenuante da divisão entre campo e cidade, e pela afirmação da divisão social em estamentos – o que prevaleceria na colonização e na administração do Brasil. Finalmente, aliados estes elementos – o comércio, a administração e o príncipe – o direito romano seria reapropriado, de forma a dar consistência política ao poder patrimonial do Estado Português.
Em seguida, parte para o bojo da explicação política, através da Revolução de Avis, para o que chamou de capitalismo monárquico – fundamentado no sistema de exploração econômica ultramarina. Na medida em que o Estado se criava com base no inchaço de servidores do sistema burocrático, o sistema político ia sendo afiado por um estamento particular balizado nas relações patriarcais entre dominadores e dominados.
Raimundo Faoro criou as condições teóricas para reafirmar os pressupostos ditos desde o início: os de que o capitalismo limitante patrimonialista não evoluiria, assim como constatado na crise de Portugal e do Estado Brasileiro, e que a modernização deveria ser calcada na liberalização política e econômica, dificultada no Brasil pelas heranças do estamento burocrático. Neste momento, a tendência de acreditar em uma modernização liberal deixa explícito seu entendimento de Estado como espaço de atuação de um estamento atrasado e como cerceador da liberdade do povo.
O Brasil até o Governo Geral e A Obra de Centralização Colonial aparecem como um mapeamento da invenção do sistema político da América, baseado na distribuição de terras, no predomínio do que chamou de conteúdo dominial sobre o administrativo. Assim, o feudalismo brasileiro ocasionaria na distribuição dos privilégios que acarretariam na formação de um Estado Soberano pelos seus atributos militares, centralistas, controladores. Juridicamente, o sistema propiciou a criação das sesmarias, do foral e das cartas de doação como formas de propiciar o capitalismo agrário dominado pela monarquia absolutista.
Em Traços Gerais da Organização Administrativa, Social e Econômico-Financeira da Colônia, A Reação Centralizadora e Monárquica e O Sistema Político do Segundo Reinado, Faoro trata de abordar as instâncias políticas pelas quais houve uma tendência à manutenção do centralismo; os primeiros conflitos entre as classes sociais; a luta entre o poder moderador e o poder parlamentar; a constituição da autoridade monárquica do Brasil Independente ainda baseado no estamento burocrático.
Com base na manutenção do sistema burocrático de privilégios, As Tendências Internas da República Velha, Mudança e Revolução e os Fundamentos Políticos, demonstram que o sistema político alimentado pela nova burguesia cafeeira continuou sob bases frágeis, na medida em que estendia os interesses do estamento burocrático para as políticas públicas a favor da manutenção da distância entre o povo e o Estado. O federalismo, que trouxe consigo a ideologia liberal, acabou por, paradoxalmente, consolidar o regionalismo coronelista e a política protecionista. O liberalismo, se executado em nome de interesses macroeconômicos não limitados pela burocracia estamental, teria tido a chance de fazer a Pátria prosperar. Faoro nos diz: “Com otimismo e confiança será conveniente entregar o indivíduo a si mesmo, na certeza de que o futuro aniquilará a miséria e corrigirá o atraso. No seio do liberalismo político vibra o liberalismo econômico, com a valorização da livre concorrência, da oferta e da procura, das trocas internacionais sem impedimentos artificiais e protecionistas”. (FAORO, 1979: 501).
Assentado no tradicionalismo das estruturas políticas, o patrimonialismo de Raymundo Faoro sinalizou a certeza de que falou, em entrevista em 1999 à Folha de São Paulo, de que o Estado poderia criar os inimigos que a democracia conheceu durante suas ditaduras, construídos através da existência de relações ambíguas entre pessoas e política, ofuscando a esfera de atuação pública e limitando-a a um estamento (im)próprio.

MEDEIROS, Sabrina Evangelista. Resenha do texto: Os Donos do Poder.Rio de Janeiro: Revista Eletrônica Boletim do TEMPO, ano 2, n. 24, 2007. [ISSN 1981-3384]

Extraído do site: http://www.tempopresente.org

*material extra, leitura não obrigatória para as aulas.

O legado crítico de Pierre Bourdieu



O legado crítico de Pierre Bourdieu*

MARCO WEISSHEIMER

O sociólogo francês Pierre Bourdieu morreu na noite do dia 23 de Janeiro, num hospital de Paris, em consequência de um cancro, aos 71 anos de idade. Catedrático de sociologia no Colége de France, Pierre Bourdieu era considerado um dos intelectuais mais influentes da sua época. A educação, a cultura, a literatura e a arte foram os seus primeiros objectos de estudo. Nos últimos anos, Bourdieu vinha-se dedicando ao estudo dos meios de comunicação e da política. Autor de uma sofisticada teoria dos campos de produção simbólica, o sociólogo procurou mostrar que as relações de força entre os agentes sociais apresenta-se sempre na forma transfigurada de relações de sentido. A violência simbólica, outro tema central da sua obra, não era considerada por ele como um puro e simples instrumento ao serviço da classe dominante, mas como algo que se exerce também através do jogo entre os agentes sociais.

Um dos pontos mais originais da obra de Bourdieu reside na vontade de superar o que ele chamava de "falsas antinomias" da tradição sociológica – entre interpretação e explicação, estrutura e história, liberdade e determinismo, indivíduo e sociedade, objectivismo e subjectivismo. Pierre Bourdieu não era apenas um pesquisador excepcional, reconhecido pela comunidade académica internacional, mas um intelectual empenhado nas lutas sociais e no debate público, na tradição francesa que reúne nomes como Émille Zola e Jean-Paul Sartre. Na década de 90, aprofundou esse seu empenhamento nos movimentos sociais, trabalhando pela criação do que chamava “uma esquerda da esquerda”, ou seja, uma esquerda que recusasse os compromissos que, ao longo do século XX, foram sendo assumidos pela esquerda europeia mais tradicional. No caso da França, especialmente pelo Partido Socialista. Em 1992, o sociólogo afirmou: “Dez anos de poder socialista (a era Miterrand) provocaram a demolição da crença no Estado e a destruição do Estado-providência em nome dos ideais liberais”.

"A cidade dos sábios"

Face ao silêncio dos políticos diante dos problemas sociais, Bourdieu passou a apelar para a mobilização dos intelectuais. “O que defendo”, costumava dizer, “é a possibilidade e a necessidade do intelectual crítico”. Para Bourdieu, não pode haver democracia efectiva sem um verdadeiro contra-poder crítico. O sociólogo dedicou os seus últimos anos de vida a combater o neoliberalismo sob todas as suas formas. Colocou os seus conhecimentos científicos ao serviço do empenhamento político. Numa de suas últimas obras, Contre-feux 2, Pour um mouvement social européen, Bourdieu afirma: “Fui levado pela lógica do meu trabalho a ultrapassar os limites que eu mesmo havia estabelecido em nome de uma ideia de objectividade que, percebi, era uma forma de censura”. Ultrapassar esses limites, para ele, significava tirar o saber para fora da “cidade dos sábios” e colocá-lo a serviço das lutas sociais contra o neoliberalismo.

Um dos principais alvos de crítica de Bourdieu, nos seus últimos anos de vida, foram os meios de comunicação, que estariam, segundo ele, cada vez mais submetidos a uma lógica comercial inimiga da palavra, da verdade e dos significados reais da vida. Era um crítico feroz do lixo cultural produzido pelos média contemporâneos. Na sua obra Questions aux vrais maîtres du monde, afirmou: “Esse poder simbólico que, na grande maioria das sociedades, era distinto do poder político ou económico, hoje está concentrado nas mãos das mesmas pessoas que detêm o controlo dos grandes grupos de comunicação, quer dizer, que controlam o conjunto dos instrumentos de produção e de difusão dos bens culturais."

Bourdieu também era um crítico da globalização (ou mundialização, como preferem os franceses) financeira. Recusava a escolha entre a mundialização concebida como “submissão às leis do comércio” e a defesa das culturas nacionais ou de qualquer forma de nacionalismo ou localismo cultural. Ao fazer essa recusa, defendia a construção de um movimento social europeu como primeira etapa da construção de um movimento social internacional, no espírito daquele que tem vindo a ser construído em torno do Fórum Social Mundial. Deixa um legado importante e uma convocação veemente aos intelectuais para que abandonem a “cidade do saber” e passem a enfrentar o som e a fúria do mundo.



Extraído do site: http://www.espacoacademico.com.br/010/10bourdieu02.htm

* material extra, leitura não obrigatória para as aulas.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Textos para próxima aula, dia 14/02

Fundamentos epistemo-metodológicos da educação ambiental
Sônia Maria Marchiorato Carneiro

RESUMO
As relações sociedade-natureza são contextualizadas a partir das analogias orgânica e mecânica ao foco de uma epistemologia ambiental, frente à crise civilizatória no mundo ocidental; nessa linha, o paradigma da complexidade fundamenta a superação das ambigüidades do desenvolvimento sustentável em prol de uma apropriada sustentabilidade socioambiental e, pois, possibilitando práticas de Educação Ambiental criticamente orientadas por uma nova pedagogia do conhecimento, com implicação de novos saberes e construção de novas relações entre pessoas, sociedade e o meio natural, sob uma Ética da Responsabilidade.

Palavras-chave: relações sociedade-natureza; epistemologia ambiental; educação ambiental.

Para ter acesso ao artigo completo, clique aqui http://www.scielo.br/pdf/er/n27/a03n27.pdf



Aspectos Políticos e Pedagógicos da Educação Ambiental no Brasil: um convite à reflexão
Carlos Frederico B. Loureiro

RESUMO
No presente artigo analiso o processo de institucionalização da Educação Ambiental no Brasil e as implicações políticas e pedagógicas de abordagens teórico-metodológicas que a compõe, posicionando-me no campo crítico.
Considerando as múltiplas nuances conceituais e a historicidade dos acontecimentos, o contraponto analítico é estabelecido entre a perspectiva emancipatória ou crítica, baseada em pedagogias libertárias e histórico-críticas, no método dialético e na teoria da complexidade, e a perspectiva conservacionista, fundamentada na pedagogia de projetos ou nas pedagogias de cunho comportamental, no pragmatismo e na teoria de sistemas. Com isso, sinalizo para a necessidade de reconhecimento da Educação Ambiental como campo de saber plural, dinâmico e conflituoso nas proposições e ações dos agentes sociais envolvidos e para a compreensão do que representa a incorporação de determinados posicionamentos diante dos desafios que os educadores ambientais se colocam. Por fim, reafirmo a especificidade da Educação Ambiental na prática educacional e sua pertinência para a concretização de um distinto patamar societário na natureza.

Para ter acesso ao artigo completo, clique aqui
http://www.sesc.com.br/services/

Crítica ao fetichismo da individualidade e aos dualismos na educação ambiental
B. Loureiro

RESUMO
No presente artigo estabelecemos a crítica a duas categorias recorrentes em Educação Ambiental, tanto em termos práticos quanto discursivos: o fetichismo da individualidade e os dualismos escola-sociedade, linguagemtrabalho.
À luz de um referencial teórico inserido na tradição dialética emancipatória, problematizamos os limites e as implicações pedagógicas de tais categorias no fazer educativo ambiental. Com isso, sinalizamos para a necessidade de maior reflexão e debates acerca do que representa a incorporação de certos posicionamentos a-históricos e não-dialéticos, apesar de por vezes relacionais, diante dos desafios e finalidades que os educadores ambientais historicamente se colocam. Por fim, reafirmamos a pertinência do método dialético marxiano, quando se tem por objetivo a construção de uma Educação Ambiental baseada na compreensão complexa e contextualizada da realidade e focalizada na superação das relações sociais estabelecidas no capitalismo, como caminho para a concretização de um novo patamar societário na natureza.

Palavras-chave: Educação Ambiental; fetichismo; dualismo; crítica; dialética
emancipatória.

Para ter acesso ao artigo completo, clique aqui
http://www.scielo.br/pdf/er/n27/a04n27.pdf

Os dois textos que estavam faltando:
Trajetória e Fundamentos da Educação Ambiental; cap. 4 (pág. 79 a 88)
Carlos Frederico B. Loureiro
Pensamento Complexo, Dialética e Educação Ambiental; cap. 1 (pág. 15 a 27)
Mauro Magalhães

Boa leitura!




Bem Vind@s!

Bem vind@s ao blog do Curso de Especialização em Educação Ambiental na Era da Globalização!

Tal espaço vem para suprir o lugar de nossa página da internet, que ainda está em construção. Esperamos aqui poder trocar informações e divulgar materiais sobre a questão ambiental a partir de uma perspectiva hipercrítica e holística.

Participem!